Red Bull te dá entretenimento




É cada vez mais comum ver a marca Red Bull presente na mídia, nas redes sociais e principalmente nos eventos esportivos. Você possivelmente imaginaria que a maior exposição fosse provocada pelo aumento das vendas, devido ao sabor exclusivo e o estímulo provocado pela bebida, mas não se resume a isso. O segredo da Red Bull está em aplicar, com maestria, uma boa estratégia de marketing.

Dietrich Mateschitz, após passagem pela Unilever, se tornou diretor de marketing da Blendax, uma empresa alemã que produzia pasta de dente, cremes para o corpo e xampu. Essa posição fez com que ele realizasse várias viagens pelo mundo todo. Entretanto, a rotina de seu trabalho não o agradava, já que ficava muito cansado e sempre longe de casa e da família.

Num belo dia, após uma viagem à Tailândia, ele tomou gosto por uma bebida tônica, parecida com um xarope e bastante popular na região, chamada Krating Daeng (búfalo vermelho d’água). A bebida era vendida em farmácias como uma substância revitalizante, e chamou atenção de Mateschitz após ajudá-lo a curar a fadiga de um voo.

Aproveitando a ausência de patentes ou marcas registradas, Dietrich rapidamente o fez e levou o produto para a Europa. Aí foi questão de tempo para que a bebida trazida da Tailândia no final da década de 1980 fizesse sucesso, alcançando o recorde de 7,5 bilhões de latas vendidas em 2019. Desde o início a marca procurou se aproximar dos jovens, criando um espírito libertador, “te dando asas”.

Porém, se analisarmos friamente, a Red Bull deixou de ser apenas uma empresa de energéticos. Como assim? Você perguntaria... Ela vende bilhões de latas de energéticos e não é uma empresa de energéticos!?

Respondo. Existe algo muito interessante na ação da empresa: Ela usa cerca de 35% do seu faturamento para investir em marketing. Mas não apenas para patrocinar campeonatos, eventos, equipes ou programas de TV. Ela tem a propriedade deles!

Como eu disse, a marca tenta se aproximar dos jovens e pra isso investe há muito tempo no esporte. A associação certeira foi com os esportes radicais, que apresentam conceitos que a marca quer transmitir aos seus consumidores: liberdade, agressividade, desafio... O engajamento dos consumidores com a marca foi perfeito e a Red Bull soube desenvolver muito bem isso a seu favor. Mateschitz mata a charada: “Nós não levamos o produto ao consumidor, nós levamos o consumidor ao produto.”

Downhill, mountain bike, motocross, surfe, rali, são exemplos de alguns dos diversos esportes que a empresa apoia e realiza. A Red Bull TV aproveitou um certo “desprezo” das mídias tradicionais e provocou a divulgação desses esportes – bem como de sua marca – com maestria, trazendo consigo uma legião de fãs (48mi de curtidas no Facebook, 13mi de seguidores no Instagram e 9mi de inscritos no Youtube).

A entrada na Fórmula 1 foi uma das apostas mais acertadas da empresa. Afinal de contas, o esporte também compartilha dos conceitos da marca.

Entrou na brincadeira em 2004 após comprar a equipe Jaguar e em 2005 comprando a equipe Minardi, criando as equipes Red Bull Racing (principal) e Scuderia Toro Rosso (secundária, agora chamada de Alpha Tauri). Em 2010 tornou-se campeã pela primeira vez com Sebastian Vettel em grande fase (fato que se repetiu até 2013, quando o piloto e a equipe completaram quatro títulos conquistados). Atualmente a Red Bull figura entre as principais montadoras (ao lado de Mercedes e Ferrari) e apesar de não produzir carros ou motores, exporta peças e conhecimento de ponta, tornando o seu negócio extremamente rentável. Isso comprova que a Red Bull não é mais apenas uma empresa de energéticos...

O futebol, apesar de não ser radical, tem um anseio da Red Bull: a inclusão e a popularidade. A empresa tem clubes de futebol em todo mundo, com destaque para RB Leipzig (Alemanha) – seu clube de maior sucesso, RB Salzburg (Áustria) – país natal da marca e New York Red Bulls (EUA) – que já contou com craques como Thierry Henry.

A ação mais recente e mais próxima da gente foi a aquisição do Bragantino, clube de futebol de Bragança Paulista/SP. Ela não paga para o time expor a Red Bull e seus touros vermelhos na camisa ou no estádio do time, ela é dona dele. A volta para a Série A do Brasileirão (não disputava a primeira divisão desde 1998) e as notícias envolvendo a disponibilidade de R$200 milhões para investimento em jogadores já colocaram o Bragantino (assim como a Red Bull) em evidência no Brasil. As vendas do energético no país contabilizaram um aumento de 30% em 2019. Sem dúvidas a imagem positiva causada pelo investimento no Bragantino representa uma boa fatia desse aumento.

E o investimento não parece que vai acabar tão cedo. O segredo da Red Bull para se manter em constante crescimento, sem dúvida, foi aprender e aplicar corretamente os melhores dos conceitos de marketing no seu segmento, por meio do esporte, alcançando um processo de inovação fantástico, que deixa a empresa como referência do mercado. Com a popularização dos esports, por exemplo, ela já tratou de investir em sua própria equipe, “Team OG”, que está presente nos jogos Dota 2 e CS:GO. A tendência é que não pare tão cedo mesmo...

Referências:
Livro “Inventando Milhões” (2006), de Simon Torok e Paul Holper.


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